Seminário Tempo da Infância reúne educadores em BH

Educadores, pais, mães, profissionais de saúde e ativistas participaram do Seminário Tempo da Infância – Encontro para pensar a criança, em Belo Horizonte, para o debate de temas como a importância do brincar, da inclusão e da escuta das crianças nas questões do espaço urbano. O seminário realizado no dia 30 de outubro de 2018, no auditório da Unimed-BH, teve o patrocínio da Lei de Incentivo à Cultura e do Instituto Unimed-BH e foi realizado pelo Museu dos Brinquedos, Ministério da Cultura e Governo Federal, com o apoio do Movimento BH pela Infância.

Olhares sobre a infância

Literatura, música e brincadeiras somadas às falas de quatro mulheres e suas experiências de atuação com crianças marcaram o Seminário Tempo da Infância. A pedagoga Fernanda Clímaco falou sobre a importância do brincar, linguagem principal da infância, e do papel de educadores e da família na garantia do tempo e do espaço de ser criança. Mariana Rosa, autora do blog Diário da Mãe da Alice e ativista da inclusão, abordou as questões relacionadas à valorização da diversidade para uma educação na perspectiva inclusiva. A jornalista Desirée Ruas trouxe para o Seminário o debate sobre a forma como o espaço público dialoga com a infância assim como a mobilização necessária para que a cidade seja interessante, acessível e segura para todas as crianças. Nayana Brettas, de São Paulo, contou sobre sua experiência com metodologias de escuta da infância e o programa lúdico ImaginaC. O seminário contou também com a participação especial do brincante Rodrigo Libanio Christo e da contadora de histórias Lucrécia Leite, como mestre de cerimônia.

Troféu Tempo da Infância

Rodrigo Libanio Christo realizou a abertura do seminário com cantigas e brincadeiras. Ao lado do músico Eugênio Brito, Rodrigo lembrou da importância do brincar também para os adultos. “Não podemos pensar o brincar se nós mesmos não vivenciamos a experiência da brincadeira, do lúdico”, reforçou. No evento, o brincante Rodrigo Libanio Christo foi homenageado com o troféu Tempo da Infância pela sua dedicação às crianças e ao brincar em mais de quatro décadas de trabalho. E o reconhecimento da sua contribuição para o universo lúdico de Belo Horizonte é visível também pelo carinho do público em todos os lugares por onde o brincante passa. O troféu Tempo da Infância foi uma criação da artista Alice Mascarenhas e mostra um homem, um menino e uma pipa.

Desirée Ruas, do movimento BH pela Infância, a mestre de cerimônias Lucrécia Leite, o homenageado Rodrigo Libanio Christo e Tatiana Camargo, diretora do Museu dos Brinquedos

Desirée Ruas, do movimento BH pela Infância, a mestre de cerimônias Lucrécia Leite, o homenageado Rodrigo Libanio Christo e Tatiana Camargo, diretora do Museu dos Brinquedos – Fotos: Amanda Seixas

Brincar é coisa séria

Fernanda Clímaco atua na formação de professores da infância e defende o tempo e o espaço do brincar na vida das crianças. Na palestra “Tempo da infância – O brincar como linguagem principal da criança”, ela explicou sobre as fases do desenvolvimento infantil. “Desde a fase de bebês, as crianças brincam com as próprias mãos e os pés. Brincar com o corpo é ativar sensações e pensamentos. Depois eles passam por experiências com objetos simples até os mais complexos. E é brincando que as crianças expressam o seu mundo, refletem, organizam e desorganizam à sua maneira seus pensamentos e sentimentos. As crianças não brincam para passar o tempo. Brincar é coisa séria e cabe a nós cuidar para que crianças tenham tempo e espaço para brincar”, reforça a pedagoga Fernanda Clímaco.

Mariana Rosa é jornalista, escritora e autora do blog Diário da Mãe da Alice onde conta suas experiências sobre maternidade atípica contribuindo para a sensibilização da sociedade pelo respeito à diversidade. Mariana explica que existem barreiras urbanísticas, arquitetônicas, de transporte, de comunicação, tecnológica e atitudinal. Mas para ela é a barreira atitudinal que mais atinge a vida das pessoas com deficiência. Ela fez um histórico de como as sociedades lidavam com as pessoas com deficiência desde a Idade Antiga. Frases como “você especial e por isso é mãe de uma criança especial” são comuns na rotina de Mariana. Ela lembra que todas as mães são especiais porque todos os filhos são especiais e enfatiza que muitas dessas falas trazem certo preconceito embutido. Em suas palestras e textos, ela sempre aborda a importância do respeito e da inclusão. “Por que é tão difícil lidar com a diversidade se ela é uma característica da vida que nos sustenta?”, pergunta Mariana.

Desirée Ruas, co-idealizadora do movimento BH pela Infância, falou sobre a invisibilidade da infância no contexto da cidade. “As crianças estão perdendo a conexão com a comunidade, com o espaço urbano. Precisamos reconhecer a criança como habitante da cidade e nos colocarmos no seu lugar, ouvir as suas impressões sobre as ruas, os ônibus, as praças”, ressaltou a jornalista. Ela apresentou a oficina “A criança e a cidade”, projeto desenvolvido pelo Museu dos Brinquedos no mês de outubro que incentivou os visitantes a repensarem o espaço urbano. O projeto teve a participação do contador de histórias Ricardo Albino e da agente de inclusãoTina Descolada. “A cidade precisa ser acessível, interessante e acolhedora para todas as crianças, cadeirantes ou não”, enfatizou Desirée.

Nayana Brettas contou como o seu sonho se tornou realidade. Foram muitos anos de persistência até o projeto ganhar reconhecimento. O ImaginaC é um programa lúdico resultado de mais de quinze anos de pesquisa e experimentações. No Glicério, em São Paulo, a metodologia para transformar cidades com as crianças, chamada de “Criança Fala”, foi testada com sucesso por dois anos e o bairro foi transformado com a ajuda da garotada. “Como em uma divertida brincadeira, as crianças são convidadas a embarcar no foguete ImaginaC para conhecer cidades e comunidades imaginadas e transformadas pelas crianças e suas criaturas fantásticas com superpoderes de ajudar a natureza”, explica a idealizadora do programa.

Ações do Museu dos Brinquedos

Na abertura do Seminário Tempo da Infância, a gerente do Instituto Unimed-BH Alessandra Peixoto falou da parceria com o Museu dos Brinquedos e da importância do espaço para a cidade de Belo Horizonte.

Para a diretora-executiva do Museu dos Brinquedos e organizadora do evento, Tatiana de Azevedo Camargo, o objetivo do Seminário foi alcançado não apenas pelo público expressivo mas pela qualidade das palestras e pelo incentivo a um olhar cuidadoso para com as crianças. “Como atividade formativa, o Seminário está dentro da diretriz ideológica do Museu em promover a reflexão e, consequentemente, a ação dos educadores, profissionais que trabalham com a infância e famílias a entender a cidade como protagonista na promoção do brincar”, destacou Tatiana.

O Movimento BH pela Infância, movimento social que incentiva a reflexão sobre a cidade e a criança, integrando o debate sobre educação, cultura, alimentação, saúde e sustentabilidade, participou da produção do evento. Para Desirée Ruas, educadora ambiental e co-idealizadora do movimento BH pela Infância, inserir as crianças no debate sobre a cidade é uma forma de dar visibilidade para as necessidades da infância no espaço urbano. “Como as ruas e outros espaços públicos são e como eles poderiam ser são perguntas que nós precisamos responder com a ajuda das crianças. Para entendermos como as crianças enxergam os processos vividos nas cidades, relacionados à ocupação, ao deslocamento, à cultura, ao contato com a natureza, ao brincar e ao lazer, é preciso que a infância seja ouvida e sua experiência seja levada em consideração”, lembra Desirée.

O evento contou com a tradução em Libras pelas intérpretes do Projeto Libras na Escola e na Vida – PLEV, Andréa Pereira e Thalita Galhano.

 

A mestre de cerimônias Lucrécia Leite

Público do seminário Tempo da Infância – Fotos: Amanda Seixas

O brincante Rodrigo Libanio Christo e o músico Eugênio Brito

O brincante Rodrigo Libanio Christo e o músico Eugênio Brito – Fotos: Amanda Seixas

A gerente do Instituto Unimed-BH, Alessandra Peixoto

A gerente do Instituto Unimed-BH, Alessandra Peixoto – Fotos: Amanda Seixas

Fernanda Clímaco falou sobre a importância do brincar na infância

Fernanda Clímaco falou sobre a importância do brincar na infância – Fotos: Amanda Seixas

Mariana Rosa, do blog Diário da Mãe da Alice – Fotos: Amanda Seixas

Mariana Rosa, do blog Diário da Mãe da Alice – Fotos: Amanda Seixas

Nayana Brettas apresentou o progama lúdico ImaginaC

Nayana Brettas apresentou o programa lúdico ImaginaC – Fotos: Amanda Seixas